Escamas

O mundo é como escamas de peixe, pois quanto mais você retira escamas, mas próximo do ponto ideal de consumo o peixe estará.

Não precisamos de mais pedras em nosso caminho: não estamos mais preparados para acordar cedo e ver um muro de tijolos na janela da cozinha, ao mesmo tempo em que procuramos tomar um tranquilo café da manhã.

As coisas precisam ser mais práticas, mais por sí só, pois estamos cansados de elaborar e laborar, para que tudo acabe em mesmice.

Aquele café da manhã em família, não pertence mais a família brasileira da década atual...

Felicidade Acinzentada

Olho para os pingos de chuva, que caem na varanda do apartamento: eles se encontram com a poeira cinzenta e percorrem alguns centímetros, até formarem uma pequena poça de água cinzenta; aos poucos se acumulam e tomam conta do restante do chão.

O cinza do céu torna-se negro, enquanto os demais pingos deslizam pelos vidros da janela – como sabonete, ou como passos distraídos sobre o limo. Tudo vai secando com ou sem vapor, com vento ou com o calor.

Cada suave perfume de natureza, mesclado com aroma de poeira, vai aos poucos infiltrando em narinas que nada sentem: pois tudo está banalizado, nada mais se torna um belo motivo para sorrir. Banalizamos e banalizaremos muitos anos de felicidades aleatórias, que nos envolvem e envolverão. Somos leves demais para suportar o peso morto em nossa mente e pesados demais para uma vida realmente tão leve.

Um banho de chuva pode ser considerado um passo para desengavetar a felicidade?

Sussa Vida!

Estou desocupado, sem motivos para me ocupar, pois me sinto muito cansado e despreparado para ser o Peter Parker de amanhã de manhã, além de um Rocky infinito e inabalável: que encontramos no milésimo round, resistindo as maiores pancadas que um humano possa suportar.

Quero fazer um curso de inglês, ou quem sabe entrar para um novo ciclo de proliferação humana pós moderna. Sou tão fantástico quanto aquele velho programa dominical, mas tão vencido quanto aquele programa da praça...

Gosto tanto de beber chá verde, mas sem me preocupar com as árvores rolantes que caem dos morros cinzas: de fumaça verde desidratada, que vai abrangendo todos os entulhos vivos que encontra em seu caminho.

Hoje só é mais um dia feliz, para que uma criança possa beber fanta laranja, ou para que um adulto beba seu próprio suor: caramelizado pelo desgaste de um grande dia de ferrugens desenterradas...

Albinismo

Hoje as cortinas amanheceram fechadas, enquanto eu olhava para o teto branco e sem vida, por alguns minutos só havia o vazio encaixotado, porém, as linhas retas começaram a criar curvas delicadas e geniais, os pássaros cantavam muito distantes, porém me recordo de todos os detalhes, por mais sutis que pudessem ser.

Uma tela em branco, sem cores, sem formas e sem vida estava posicionada sobre meu corpo, me prensando contra a cama, enquanto os lençóis criavam formas esculturais para servirem de pilar, servirem de mero sustento, para me manter vivo.

Já estava na hora de voltar a nadar...